segunda-feira, março 31, 2008

Classificação dos Afloramentos do Jurássico Carts ao Presidente da Junta de Freguesia (2006)

Exmo. Senhor
Presidente da Junta de Freguesia de Cadima

Carlos Alberto Rebola Pereira, casado, militar na reserva, residente na Rua de Vale de Zambujal, n.º 108, 3060-115 Cadima, contribuinte n.º xxxxxx e eleitor recenseado na Junta de Freguesia de Cadima (xxxx).

Na sequência do pedido de V.a Exa. para colaborar na elaboração da proposta destinada à classificação como Imóvel de Interesse Municipal de terrenos públicos, situados entre Monte Grande e o Logadrão, vem assim reiterar a sua total disponibilidade para o referido efeito.
Tendo a certeza que com o interesse demonstrado por Vossa Ex.a e pelos seus colaboradores, nomeadamente o Tesoureiro e o Secretário da Junta, respectivamente, Joaquim José Bolito e Dr. Carlos Gregório, o primeiro residente no lugar do Zambujal - local onde se situam os terrenos em causa, e assim sensibilizado para a defesa deste património da sua terra, e o segundo licenciado em História, e por isso, conhecedor dos valores culturais do património em causa.
Assim sendo, a disponibilidade da Junta de Freguesia presidida por Sua Exa., conjugada com todo o potencial cultural e intelectual e conhecimentos interdisciplinares, dos membros que constituem a nossa Câmara Municipal - (que decerto é sensível às questões do património cultural e geológico do nosso concelho) - associa-se o interesse do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra, personalizado pela Professora Doutora Helena Henriques, a qual se disponibilizou, como sempre tem feito, para colaborar e para fundamentar o parecer que elaborou, e do qual o Senhor Presidente da Junta de Freguesia é detentor de cópia.
A manifestar o interesse pela proposta de classificação do património cultural e geológico em causa refere-se ainda o Prémio Geoconservação 2006, com que foi galardoado o Museu da Pedra que também tem como colaborador o Secretário da Junta Carlos Gregório, prémio este que foi recentemente atribuído pelo grupo português da Progeo (Associação Europeia para a Conservação do Património Geológico).
Note-se que o objectivo foi premiar a autarquia de Cantanhede pela adopção de estratégias de conservação e valorização do património geológico do concelho. Saliente-se que o que está em causa nos terrenos referidos são os afloramentos do Jurássico médio (páginas de um “livro” onde estão inscritas as memórias da Terra, com cerca de 170 milhões de anos e que corre o risco de ser irremediavelmente destruído).
Todas estas felizes coincidências constituem condições excepcionais para que a salvaguarda deste património de excepção esteja garantida e que sem, sombra de duvidas, fundamenta a proposta aludida que V.a Exa. Certamente irá fazer seguir.
Mais uma vez o signatário reafirma a sua total disponibilidade para a colaboração devida com a autarquia nesta matéria e noutras.


Com os melhores cumprimentos


Carlos Alberto Rebola Pereira

Zambujal, 5 de Junho de 2006



Junta cópia de parecer e bibliografia do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra elaborado pela Professora Doutora Helena Henriques.



PARECER


Os afloramentos jurássicos de S. Gião (Cantanhede) constituem, há muito, local de referência em estudos de estratigrafia portuguesa. Destaca-se a relevância do registo fóssil e o seu significado estratigráfico, particularmente no estabelecimento do limite entre o Jurássico Inferior e Médio, que foi e é objecto de referência junto da comunidade científica nacional e estrangeira. A atestá-lo, junta-se uma síntese das publicações científicas relativas às séries calcárias aflorantes entre o marco geodésico de S. Gião e a estrada Vila Nova - Zambujal.
O mesmo local tem servido, todos os anos, como área de trabalho prático das disciplinas de Estratigrafia e de Paleontologia da Licenciatura em Geologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, o que igualmente atesta o seu potencial didáctico.
Assim, e dada a vulnerabilidade do afloramento, que sucessivamente tem vindo a ser objecto de destruição, é nosso parecer solicitar à Câmara Municipal de Cantanhede a proposta de classificação do local como Imóvel de Interesse Municipal, disponibilizando, desde já, a nossa colaboração para efeitos da respectiva fundamentação científica.



Coimbra, 10 de Fevereiro de 2006


Prof. Doutora Maria Helena Paiva Henriques
Departamento de Ciências da Terra
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra


PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS RELATIVAS AO PERFIL DA PASSAGEM JURÁSSICO INFERIOR-MÉDIO DE S. GIÃO (CANTANHEDE)



HENRIQUES, M. H. P. (1992) - "Biostratigrafia e Paleontologia (Ammonoidea) do Aaleniano em Portugal (Sector Setentrional da Bacia Lusitaniana)", Tese Dout., Univ. Coimbra, I.N.I.C., 301p., Figs.1.1 - 2.33, Ests.1-7.

HENRIQUES, M. H. (1995) - "Les faunes d'ammonites de l'Aalénien Portugais: composition et implications paleobiogéographiques" In M. GAYET & B. COURTINAT (ed.): First European Paleontological Congress, Lyon 1993, Geobios, Lyon, M. S. nº 18, pp. 229-235, 4 fig., 1 pl..

HENRIQUES, M. H., LINARES, A., SANDOVAL, J. & URETA, M. S. (1996) - "The Aalenian in the Iberia (Betic, Lusitanian and Iberian Basins)", in A. C. Riccardi (ed.) "Advances in Jurassic Research", GeoResearch Forum, Transtec Pub., Zurich, Vol. 1-2, pp. 139-150.

SANDOVAL, J., HENRIQUES, M. H., URETA, S., GOY, A. & RIVAS, P. (2001) – “The Lias/Dogger boundary in Iberia: Betic and Iberian cordilleras and Lusitanian basin”, Bull. Soc. géol. France, t. 172, nº4, pp. 387-395.

GOY, A., HENRIQUES, M. H., SANDOVAL, J. & URETA, S. (2000) - "Stratigraphic events at the Lias-Dogger boundary in Iberia: Betic and Iberian Cordilleras and Lusitanian Basin", "Les événements du passage Lias-Dogger", Séance spécialisée de la Societé Géologique de France, du Comité Français de Stratigraphie e da Association des Géologues du Sud-Ouest, Toulouse (França), Strata, série 1 - vol. 10, pp. 133-136.

HENRIQUES, M. H. (2000) - "Biostratigraphie (Ammonoidea) du passage Lias-Dogger dans le Bassin Lusitanien: la coupe de S. Gião (Portugal)", "Les événements du passage Lias-Dogger", Séance spécialisée de la Societé Géologique de France, du Comité Français de Stratigraphie e da Association des Géologues du Sud-Ouest, Toulouse (França), Strata, série 1 - vol. 10, pp. 31-35.

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