quinta-feira, março 20, 2008

Carta CMC Fev 2007 Terrenos Monte Grande - Logadrão






















Zambujal, 12 de Fevereiro de 2007

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cantanhede

Venho mais uma vez por este meio comunicar a Vossa Exa. porque penso que é necessária uma intervenção nos terrenos que ladeiam a estrada Monte Grande – Logradão, numa extensão de cerca de 1500 metros e numa largura que nalguns locais é superior a 50 metros. Principalmente a porção que pertence á Freguesia de Cadima e que na foto (disponibilizada pelo SIG do nosso município no seu explorador geográfico em http://sig.cantanhedeonline.pt) é de uma extensão de cerca de 1100 metros, com início no canto NE do recinto desportivo da ACRZ até ao cruzamento da estrada Monte Grande – Logadrão com o caminho São Gião (depósito da água) – Piares, quase no limite da Freguesia de Cadima (linha azul). Como se vê estes terrenos dum lado e doutro da estrada a vermelho numa largura de cerca de 50 metros estão situados na Reserva Ecológica Nacional (área a tracejado verde). As manchas vermelhas assinalam zonas onde foram depositados inertes com alcatrão, vindos das obras de saneamento do Zambujal e Fornos.
Foto (sigmc_NETSIG2220396858) – do monte grande ao limite da freguesia de Cadima pela “Estrada Real”[i].
Senhor Presidente
Eis algumas das razões que me trazem à defesa destes terrenos, para fruição de todos:
- Na minha opinião são públicos

- Na sua maioria estão situados na Reserva Ecológica Nacional.

- Na minha opinião constituem um elemento cultural, pois:
Situam-se precisamente na divisão das bacias hidrográficas do Mondego a sul e Vouga a norte.
Os terrenos constituídos basicamente por margas calcárias (de São Gião) são ricos em fósseis do Jurássico.
Os afloramentos do período Jurássico com estas características, existentes não são abundantes no nosso concelho.
São biótopo duma fauna e flora particular.
O caminho é referenciado pelo Dr. Simões Marques como das mais antigas vias de comunicação da freguesia de Cadima. E o Dr. Correia Góis descreve o itinerário que a rainha Dona Maria II fez nesta região em 1852, relatando factos curiosos.


- Constituem um instrumento pedagógico, porque:
Pelas suas características podem ser utilizados pelas escolas para a sensibilização da defesa da memória da terra e defesa do ambiente, nas vertentes hídricas, biofísicas e paisagísticas[1].
Têm potencialidade para serem um pólo vivo, em campo aberto, do Museu da Pedra.
De acordo com parecer da Dr.ª Helena Henriques,[ii] são instrumento para o ensino em áreas das ciências da terra nomeadamente, estratigrafia e paleontologia e merecem ser classificados.
- Podem constituir um parque onde todos possam:
Desenvolver actividades lúdicas amigas do ambiente.
Usufruir dum ambiente saudável e contribuir para a sua preservação.
Perante uma cada vez maior pressão humana, melhorar as condições biofísicas para diminuir a tensão ambiental, factores importantes da nossa futura qualidade de vida.
Mas Senhor Presidente tudo isto corre perigo de destruição, senão vejamos:
As infra-estruturas da adutora que abastece de água o Zambujal e Fornos estão mal tratadas. Como a foto documenta
Esta parece ser uma caixa que deveria proteger válvulas da adutora de água para Zambujal e Fornos (situa-se Junto da nascente dos Rodelos). Outras estão em mau estado e á mercê de tudo. Em alguns pontos desta importante conduta o terreno que a cobre já foi intervencionado por máquinas agrícolas.



Os marcos que foram colocados pela CMC em tempos têm desaparecido como documentam as fotos.
Este marco perto da lagoa do Ladrão foi arrancado e colocado nesta posição junto da estrada outros marcos têm surgido como se pode ver nas fotos seguintes
Em primeiro plano o marco arrancado e ao fundo um marco feito de viga de cimento pré forçado. Este marco já não se encontra no local resta o cepo de cimento estilhaçado.
Outro marco


Também o lixo continua a ser colocado impunemente nesta zona da REN
Estes afloramentos já foram destruídos

Mas ainda podemos salvar
Fósseis e cascalho miudinho como diria Carlos de Oliveira em “finisterra” estão aqui a recordar-nos que a terra também tem memória.
Ainda estamos a tempo, assim haja vontade, de preservar estes e aforamentos
Durante milhões de anos a natureza escreveu aqui as memórias do que já fora talvez uma praia de águas límpidas e areias brancas, esta janela temporal de mais de 140 milhões de anos não pode ser comparada pela janela temporal de meia dúzia de anos pela qual pela qual olhamos os nossos interesses. Isto pode ser destruído em horas como já aconteceu aqui perto.




Senhor Presidente
Tenho falado com vários proprietários de terrenos junto da área em causa e todos estão dispostos a colaborar com o Município para a salvaguarda dos terrenos contribuindo para a sua delimitação, o mesmo se passa com a maioria da população.
Por isso penso que não será difícil ao Município a aplicação prática dos instrumentos que tem à sua disposição. Hoje que se fala tanto em custos, penso que aqui serão mínimos uma vez que o importante para já é somente delimitar a área.
Senhor Presidente esta é a minha opinião sobre estes terrenos em concreto, que merecem ser classificados como Imóvel de Interesse Municipal, como é proposto pela Doutora Helena Henriques.
Senhor Presidente
O Parecer que a Sr.ª Professora Doutora Maria Helena Paiva Henriques do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra me enviou (cópia no final deste documento), foi entregue em Março de 2005 ao executivo da Junta de Freguesia de Cadima na pessoa do seu Presidente Senhor José Alberto Pessoa para que fosse elaborada a proposta de classificação dos terrenos em causa à CMC.
Talvez devido ao facto de haverem terrenos que pertencem a outras freguesias justifiquem o tempo de preparação da proposta.

Com os melhores cumprimentos
Carlos Alberto Rebola Pereira



[1] Existem nascentes naturais e lagoas, plantas e animais interessantes no seu habitat natural e a paisagem bela atesta o sentido estético dos romanos aliado ao lado prático (água e pastagens = alimento) ao viverem nesta zona.
[i] Esta via de comunicação é a chamada Estrada Real devido à passagem da Rainha D. Maria II e seu séquito, em 25 de Maio de 1852, por este caminho vinda de Lemede com destino a Montemor-o-Velho.

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